Entre as ações do Projeto Rondon no município de São Domingos do Araguaia, no sudeste paraense, está a instalação do Museu Histórico da Guerrilha do Araguaia. A atividade fez parte da capacitação ofertada na área de Cultura, a qual abordou a temática da Museologia.
De acordo com a coordenadora do Projeto Rondon na UFPA e da equipe que trabalhou em São Domingos do Araguaia, professora Ieda Guedes, a oferta surgiu mediante a demanda dos próprios moradores do município onde ocorreu a Guerrilha do Araguaia, movimento desencadeado na região, entre as décadas de 60 e 70, com propósito de fomentar uma revolução socialista no Brasil.
Funcionamento - O Museu foi criado como instituição pertencente à Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia (ATGA) e deve começar a funcionar dentro de três a quatro meses, tempo necessário para a conclusão da reforma do local onde será instalado. O acervo constará de depoimentos em áudio e/ou vídeo de torturados ou de parentes, além de documentos históricos e instrumentos, como armas de guerrilheiros e militares.
O papel da equipe da UFPA do Projeto Rondon foi prestar orientações e dinamizar os participantes para a instalação e o funcionamento do Museu. A capacitação foi ministrada pela voluntária Sílvia Guerreiro Giese, estudante do curso de Museologia da UFPA. Cerca de 13 pessoas participaram do curso, entre as quais, dois torturados e alguns familiares de torturados da Guerrilha.
“Apresentamos os tipos de museus existentes, informamos como um museu pode atuar de forma alternativa, ou seja, independentemente de vínculo com a Prefeitura, e falamos da importância de alguns procedimentos, como a criação de um livro de tombo, da documentação de fundação e do estatuto do museu, dentre outros assuntos”, explicou a estudante Sílvia Giese.
Preservação da memória - A professora Ieda Guedes afirmou que a ação provém de um dos objetivos do Rondon, no sentido de valorizar o patrimônio histórico e cultural do município onde está atuando. “A Guerrilha ainda está muito viva na memória daquelas pessoas, memória esta que carece de ser socializada. Ainda há muita coisa para ser contada sobre o fato, e um Museu como esse ajudaria a própria população e os pesquisadores do assunto a entenderem a Guerrilha em todos os aspectos”, diz a professora.
A equipe da UFPA coletou entrevistas em áudio e vídeo para compor um documentário, que será também socializado juntamente com o acervo do Museu. Ao todo, sete depoimentos de torturados foram coletados. O trabalho de coleta deve prosseguir mesmo após o término da Operação Carajás do Projeto Rondon.
História – A Guerrilha do Araguaia começou a ser combatida pelo exército a partir de 1972, quando vários de seus integrantes já haviam se estabelecido no município há, pelo menos, seis anos. Com a pressão militar para eliminar a Guerrilha, moradores de São Domingos do Araguaia foram vigiados, coagidos e, muitas vezes, torturados. Foi daí que surgiu a Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia (ATGA), que, há muito tempo, já tinha anseios de criar um museu onde a história da Guerrilha pudesse ser contada sob outro ponto de vista que não apenas o dos guerrilheiros ou dos próprios militares.
De acordo com Ieda Guedes, a coordenação do Projeto Rondon, sendo multi e interdisciplinar, deverá buscar parcerias com especialistas na área para dar continuidade ao processo de instalação do Museu Histórico da Guerrilha do Araguaia.
Texto: Jéssica Souza - Assessoria de Comunicação da UFPA
Foto: Blog Guerrilha do Araguaia
http://www.portal.ufpa.br/imprensa/noticia.php?cod=4429
Nenhum comentário:
Postar um comentário