sábado, 27 de novembro de 2010

DOCUMENTOS COMPROVAM O SISTEMA DE CONTROLE IMPOSTO AOS CAMPONESES NO ARAGUAIA

Documentos em posse de camponeses comprovam o nível de controle e perseguição cometida pelos militares durante e depois dos conflitos na Guerrilha do Araguaia, movimento insurgente dirigido na clandestinidade pelo Partido Comunista do Brasil entre os anos de 1972 a 1975, na região compreendida entre o Sul do Pará, o Norte de Goiás e o Sul do Maranhão, imensa área que ficou conhecida como Bico do Papagaio, cuja expressão na opinião de um dos generais que atuou na repressão política fora "a maior guerra do Brasil rural no Século XX" no enfrentamento à Ditadura Militar.

Com o apoio das forças de segurança e policiais dos Estados do Pará, do Goiás e do Maranhão, os militares comandados pelo Planalto Central instituiram na região um verdadeiro Estado de Sitio, onde controlavam tudo e todos, fazendo com que todos os moradores das pacatas cidades e vilarejos tivessem sem nenhuma explicação, suas liberdades proibidas pelos militares pelo fato de serem ou não amigos de integrantes do movimento guerrilheiro, onde todos os homens sem exceção foram retirados de suas casas sob ordens de prisão e levados a cárceres que funcionavam em vários locais espalhados pela região, onde o mais utilizado foi o que era instalado na Base Militar de Bacaba, o Antigo DNER (Casa Azul) como era conhecido e a Base de Xambioá. Tal Base foi utilizada principalmente para isolar os camponeses de seus familiares porque ficava do outro lado do Rio Araguaia e só os militares faziam a travessia, pois todos os barcos que trafegavam no Araguaia eram monitorados.

Este documento que estamos publicando mostra claramente o formato que era usado para manter o controle dos camponeses na região. Muitos lavradores após passarem meses presos sob graves violações de seus direitos fundamentais e muitas das vezes torturados até a náusea, quando não eram mortos e desapareciam.

Centenas de camponeses tinham que se apresentar a cada 15 dias nas bases militares e era forçados a prestar informações acerca do que sabiam ou tinham visto em relação a movimentação e localização dos guerrilheiros e suas bases de apoio popular.

Todas as vezes que um camponês tinha a necessidade de se deslocar entre os municípios e localidades da região tinham que ir até uma Delegacia e após longos interrogatório é que as forças de segurança locais emitiam um ATESTADO DE CONDUTA, infâme documento que lembra o nazismo.

Tendo uma foto do camponês ao centro, tinha que ser apresentado em todas as unidades de revista militares para que daí tivesse a sua passagem autorizada seja pelos rios ou caminhos terrestres.

O direito de ir e vir era severamente controlado pelos brutamontes de 64.

O achamento dessa documentação nas mãos de camponeses faz com que possamos ter uma ideia mais geral de como funcionava o aparato repressivo nos sertões araguaianos e revelam o nível de pressão que eram submetidos os trabalhadores rurais do Sul do Pará.


Por Sezostrys Alves da Costa.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ASSOCIAÇÃO REALIZARÁ 4° ENCONTRO DOS TORTURADOS NA GUERRILHA DO ARAGUAIA

Depois de realizar por 03 anos consecutivos (2007, 2008, 2009), encontros reunindo centenas de camponeses que foram vitimas das atrocidades da Ditadura Militar, durante a Guerrilha do Araguaia – 1972/1975 no Sul do Pará, Norte de Goiás e Sul do Maranhão, região conhecida como Bico do Papagaio.



A Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia convoca o 4° Encontro dos Torturados na Guerrilha do Araguaia, que deverá ocorrer nos dias 11 e 12 de Dezembro, sendo que no Dia 11 (Sábado) acontecerá a primeira parte em São Domingos do Araguaia/PA, tendo inicio as 08:00 horas da manhã, se estendendo por todo o dia e a noite acontecerá a exibição do Documentário da Fundação Mauricio Grabois – “Camponeses do Araguaia – A Guerrilha Vista por Dentro”, do Diretor Vandré Fernandes, neste primeiro dia estarão reunidos camponeses e camponesas dos municípios de São João do Araguaia, Brejo Grande do Araguaia, Palestina do Pará, Marabá e outros da região. E dia 12 (Domingo) acontecerá a segunda parte do evento em São Geraldo do Araguaia/PA, seguindo a mesma programação e estarão reunidos camponeses e camponesas dos municípios de Piçarra/PA e Xambioá/Araguanã-TO.

Teremos como temas principais as discursões acerca da situação dos processos de camponeses que foram anistiados pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e que estão com seus pagamentos susensos por uma LIMINAR expedida pela Justiça Federal do Rio de Janeiro desde Setembro de 2009, e ainda das centenas de outros que aguardam o julgamento de seus processos jundo a C.A. do Ministério da Justiça.
 
Vale ressaltar portanto que finalmente, nos dias 18 e 19 de Junho de 2009, realizou-se com o apoio de diversos órgãos, dos diferentes entes federados a terceira incursão em São Domingos do Araguaia/PA, onde foi anunciado o resultado do julgamento de 91 processos em ato público, onde contamos com a presença do então Ministro da Justiça – Tarso Genro; O Presidente da Comissão de Anistia – Paulo Abrão; a Governadora do Estado do Pará – Ana Júlia Carepa e outras autoridades locais e nacionais, sendo anunciado Deferimento de Anistia a 44 camponeses araguaianos e o indeferimento de outros 40, sendo que 07 foram retirados de pauta. Neste ato o Ministro da Justiça fez um pedido oficial de desculpas a todos os camponeses pelos atos cometidos a eles pelo Governo Militar.
 
Em Setembro de 2009, uma LIMINAR expedida pela 27ª Vara Federal do Rio de Janeiro Suspendeu todos os pagamentos das indenizações dos 44 anistiados araguaianos, o que causou um tremendo descontentamento entre todos os camponeses, pois já se passaram 37 anos da Guerrilha, e até hoje a tortura, o sofrimento perpetua sobre os mesmos e quando o Governo faz o seu reconhecimento do erro cometido contra as centenas de camponeses, se ver estes direitos serem impedidos de serem correspondidos em detrimento de uma Ação Popular que foi provocada por um cidadão que figura nos quadros da Assessoria do então Deputado Estadual Flávio Bolsonaro, filho do Deputado Federal Jair Bolsonaro, sendo este ultimo uma figura que atuou como militar na Ditadura em nome do Estado, e sem sombra de duvidas tem sua posição conservadora e contrária a esta política de reparação aos perseguidos políticos do Brasil.
 
Por fim, já se passou um ano que foi concedida a LIMINAR suspendendo os pagamentos dos 44 anistiados, no decorrer do tempo 05 dos 44 anistiados já faleceram, o ultimo faleceu neste dia 21 de Novembro de 2010, depois de meses lutando contra a doença e sem condições mínimas de obter sequer uma consulta especializada, muito menos fazer alguma coisa pra melhorar sua saúde, nos últimos dias estava internado no Hospital Municipal de Palestina do Pará, vindo a morrer depois de 02 dias, e sempre que visitado expressava sua indignação pela situação em que se encontrava, relatando ainda que se tivesse recebido sua indenização não estaria ali, algo que ouvimos e ficamos muito angustiado, pois como ser humano que somos, é de parte a alma ver tais situações acontecerem por conta de problemas que foram causados por conta de ações de pessoas irresponsáveis, que não tinham e não tem nenhum compromisso com o cumprimento dos direitos humanos neste país, este ultimo falecido poderia sim, ter tido seus dias prolongados, mas não teve esta oportunidade, o que se não for brevemente resolvido acerca da liberação dos pagamentos a estes camponeses, outras mortes aconteceram e a história se apagando junto, indo a sepultura pessoas simples, humildes, miseráveis, que na sua maioria nem o teto próprio possuem para morar e acomodarem suas famílias. A Guerrilha perpetua até os dias de hoje, pois o sofrimento permanece crivado na vida de cada um camponês sobrevivente da Guerrilha do Araguaia.



Por este meio pedimos encarecidamente, pelo vosso credo, pelo gesto de humanista, de ser humano que és, que em observância a tudo isso, que seja tomada providencias no sentido de mudarmos a realidade dos últimos dias de vida dessas pessoas que sobreviveram um episodio que foram vitimas sem ter ao menos a consciência do que ocorria naquele momento da historia brasileira, para que estes direitos seja assegurados, lembrando que a posição da Comissão de Anistia em anistiar estes Camponeses reflete o sentimento do Governo Federal, de Diversos órgãos de defesa dos direitos humanos e ainda da Anistia Internacional e da OEA – Organização dos Estados Americanos para os Direitos Humanos.


Vimos portanto expressar o nosso convite para a sua participação no 4° ENCONTRO DOS TORTURADOS NA GUERRILHA DO ARAGUAIA, que acontecerá aqui em São Domingos do Araguaia – PA, nos dias 11 e 12 de Dezembro de 2010.


Desde já adiantamos que a vossa presença é indispensável.

Por Sezostrys Alves da Costa

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

'Camponeses do Araguaia' captou sentimento do povo da região

Nesta entrevista ao Portal da Fundação Maurício Grabois (Grabois.org), o presidente da fundação, Adalberto Monteiro, e o diretor do documentário "Camponeses do Araguaia — a Guerrilha vista por dentro", Vandré Fernandes, comentam a concepção, a realização e a mensagem da obra.


4 de Novembro de 2010 - 17h45



“Como é praxe nesse tipo trabalho, a marca do diretor é determinante. Mas nem por isso ele deixou de absorver propostas, sugestões e observações. Eu e o jornalista Osvaldo Bertolino participamos do argumento do documentário. Quero registrar essa sensibilidade do Vandré, que interagiu o tempo todo conosco. Depois incorporamos mais gente na elaboração do trabalho, sempre sob a regência do diretor”, diz Adalberto Monteiro.


O documentário "Camponeses do Araguaia – A guerrilha vista por dentro", produzido pela Fundação Maurício Grabois com direção de Vandré Fernandes, está entre os 19 finalistas que concorrem ao Troféu Bandeira Paulista da 34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. A cerimônia de entrega dos prêmios acontece nesta quinta-feira (4), quando a Mostra será encerrada. Os filmes concorrentes foram escolhidos por votação do público.

A seguir, a íntegra da entrevista.

Grabois.org : Adalberto, como surgiu a idéia de fazer o documentário?

Adalberto Monteiro: Assim que a Fundação tomou conhecimento do julgamento dos processos dos camponeses do Araguaia requerendo os direitos de reparação política e financeira previstos na Lei da Anistia devido aos danos causados pela ditadura, de pronto firmamos a convicção de que não poderíamos perder a oportunidade rara de registrar depoimentos daquelas pessoas. Todos estariam reunidos em um mesmo lugar, além dos integrantes da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, representando o Estado. E todos estavam com vontade de falar, de relatar o que aconteceu na região.

Para viabilizar a idéia, surgiu a proposta de convidar o jovem documentarista Vandré Fernandes. Foi uma boa idéia. Ao tomar conhecimento da proposta, ele sugeriu que fizéssemos um documentário. Qual era o objetivo? Além do registro daquele momento, fazer um produto que permitisse o acesso de um maior número possível de pessoas a essa história.

Grabois.org: Vandré, fale um pouco da concepção do documentário.

Vandré Fernandes: É importante ressaltar que as fundações não têm a prática de participar de documentários no Brasil. A iniciativa da Fundação Maurício Grabois é pioneira nessa parceria, que tem como tradição a participação de empresas públicas e mesmo privadas. Até por conta da redução de impostos, baseada na legislação de incentivo fiscal.

Outra questão importante é que a Fundação Maurício Grabois participou da concepção do documentário por meio dos pesquisadores do tema, os jornalistas Adalberto Monteiro e Osvaldo Bertolino. Eles ajudaram a formatar o roteiro. Por meio de trocas de informações chegamos a conclusões importantes, como a necessidade de registrar o legado da Guerrilha.

Obviamente que não deu para registrar tudo, mas o que consta do documentário saiu da cabeça dos participantes do episódio, os camponeses do Araguaia. Além disso, quero registrar a contribuição do produtor Zagallo, que deu ritmo, andamento ao documentário.

Grabois.org : Adalberto, como foram os primeiros passos para dar forma à idéia do documentário?

Adalberto Monteiro: O Vandré reagiu à proposta da Fundação com uma resposta audaciosa. Ao apresentar o pré-roteiro, transformando a nossa idéia inicial em um documentário, ele imprimiu um caráter autoral ao trabalho. Como é praxe nesse tipo trabalho, a marca do diretor é determinante.

Mas nem por isso ele deixou de absorver propostas, sugestões e observações. Tanto eu quanto o jornalista Osvaldo Bertolino participamos do argumento do documentário. Quero registrar essa sensibilidade do Vandré, que interagiu o tempo todo conosco. Depois, incorporamos mais gente na elaboração do trabalho, sempre sob a regência do diretor.

Grabois.org : Vandré, de onde vieram as informações básicas para o roteiro do documentário?

Vandré Fernandes : Muitas lideranças do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que foi o protagonista da Guerrilha do Araguaia, deram inestimáveis contribuições. A literatura sobre o tema também ajudou muito. Destaco o livro A Guerrilha do Araguaia – a esquerda em armas, do professor Romualdo Pessoa Campos Filho, o Relatório Arroyo (escrito por um dos dirigentes da Guerrilha, Ângelo Arroyo), a Revista da Guerrilha do Araguaia, produzida pela editora Anita Garibaldi, e o livro Relato de um Guerrilhueiro, de Glênio Sá. Foram algumas obras consultadas para elaborar o roteiro.

Essas informações são elementos importantes para que o documentário chegasse onde chegou. Tomei o cuidado de evitar um tom panfletário, ou mesmo de propaganda. A idéia era produzir algo que pudesse ao mesmo tempo estar nas salas de cinema e em atividades de estudos da nossa história. Captamos o sentimento do povo da região, que, por meio do contato com os guerrilheiros, conseguiu ter acesso à educação, à assistência social — além de conhecer uma mensagem de esperança, de tomar consciência do que é a democracia.

Penso que as pessoas que não passaram por um processo marcante como aquele povo passou não têm a mesma consciência política. Eles aprenderam a lutar por seus direitos, forjaram um aprendizado político na convivência com os guerrilheiros. A gente vê que são pessoas com profundos sentimentos humanos, sem vaidades. O documentário captou esse sentimento.

Grabois.org: Adalberto, fale um pouco do papel histórico do episódio narrado pelos camponeses.

Adalberto Monteiro: O documentário se insere em um episódio da nossa história ainda inconcluso. Passados cerca de 40 anos, pode-se dizer que a Guerrilha do Araguaia ainda não terminou. Os arquivos, apesar das decisões judiciais e dos esforços do governo federal, continuam ocultos. Os corpos dos guerrilheiros e camponeses que tombaram continuam desaparecidos. São fatos inaceitáveis. Os familiares ainda não conseguiram o direito humanitário de dar um túmulo honroso aos restos mortais dos seus entes queridos.

Então, o documentário é muito importante também para assegurar o direito à memória, à verdade histórica sobre aqueles acontecimentos. Não podemos mascarar a história do nosso país. Outra importante dimensão é a da justiça, porque o documentário registra a luta dos camponeses pelo acesso a um benefício previsto na Lei de Anistia, cassado por uma liminar de um juiz federal.

O documentário mostra que eles perderam o medo, venceram os traumas e buscam seus direitos legítimos. É uma maneira de divulgar esse fato e buscar a reparação, a correção dessa injustiça.

Destaco ainda a desmistificação sobre o apoio do povo da região à Guerrilha. O documentário tem o grande mérito de dar a palavra aos camponeses. E emerge, como o Vandré registrou, depoimentos pungentes das pessoas simples da região, de um povo humilde. Depoimentos consistentes, longe da caricatura que a ditadura e mesmo outras análises desfiguradas apresentaram. O documentário mostra que aquele povo tem gratidão pela mensagem de justiça, pelos laços de fraternidade mútua estabelecidos com os guerrilheiros.

Grabois.org: Vandré, como você avalia os resultados do documentário nos locais onde ele foi apresentado?

Vandré Fernandes: O documentário foi exibido nos festivais do Rio de Janeiro e de São Paulo, o que demonstra seu êxito. Eu diria que se ele ajudar a reparar essa injustiça que é a cassação dos benefícios dos camponeses já é uma grande vitória.

Na mostra de São Paulo, quando houve debates com a platéia, muitos perguntaram sobre a reversão da liminar que derrubou temporariamente a decisão da Comissão de Anistia. Mas a idéia é fazer dele um instrumento de análises das lutas por transformações em nosso país.

Grabois.org : E o formato, agradou?

Vandré: Sim. Procurei deixar a câmara fixa, fazendo um enquadramento com pouca variação. A idéia é passar um sentimento de que o espectador está entrando na casa dos camponeses para ouvir uma história. Eles são bons contadores de história. A gente consegue interagir com seus sentimentos, criando uma afeição — como se eles fossem nossos tios ou avós. Brota uma solidariedade, uma interação sentimental com a vida daquele povo.

Como falei, no debate que fiz na mostra de São Paulo isso ficou bem demonstrado. Houve até uma senhora que se manifestou após o encerramento da exibição, dizendo que ali estava uma história que justificava o voto na candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff. Então, o documentário traz à tona esse sentimento.

Grabois.org: Adalberto, você, como artesão da palavra, como avalia essa peculiaridade da narrativa dos camponeses?

Adalberto Monteiro: Esse povo privado da educação formal, da cultura formal, desenvolveu a riqueza da oralidade. A ele foi negado o alfabeto. Emergiu então a capacidade de narrar, de contar história. E os depoimentos no documentário criam essa empatia lembrada pelo Vandré ao mostrar, de maneira didática, fidelidade aos fatos. A fluência da oralidade é uma qualidade do documentário que o Vandré soube trabalhar. Não é uma narrativa monótona. Você se embevece, cativado pela cadência, pelo ritmo das falas dos camponeses.

Como dizia João Amazonas (histórico dirigente do PCdoB, que participou da Guerrilha), ao falar daqueles acontecimentos surgem, além das atrocidades cometidas pela repressão, coisas inerentes aos combates e um sentimento de fraternidade. Um exemplo é aquela passagem em que um camponês fala da escolinha da Áurea, construída por um mutirão.

Era um barracão de paredes de barro, coberto com palha, que funcionou por mais de um ano. Foi uma forma que os camponeses encontraram para alfabetizar suas crianças. Foi uma troca: por um lado, os guerrilheiros levaram consciência, mensagens de um mundo melhor, de solidariedade; por outro, receberam instruções sobre como viver na mata, como absorver os costumes da região.

São coisas ricas, de um conteúdo humanitário muito significativo. Por isso, a Fundação tem a expectativa de que o documentário seja apresentado para a maior quantidade possível de pessoas. Não só nos espaços de cinema, mas também em auditórios de instituições públicas e privadas, nos sindicatos, nas organizações populares.

Grabois.org: Vandré, fale um pouco dos colaboradores do documentário.

Vandré Fernandes: Além do Bruno Mith, um cineasta premiado, responsável pela qualidade da fotografia, destaco a participação importantíssima do Zezinho do Araguaia. Ele nos acompanhou nas gravações, dando orientações, sugerindo entrevistas, prestando informações. Muitas vezes ele até orientava o jornalista Osvaldo Bertolino, responsável pelas entrevistas com os camponeses, sugerindo perguntas e lembrando fatos ocorridos na época da Guerrilha.

Outra figura importante foi a dona Neuza, esposa do guerrilheiro Amaro Lins. Como profunda conhecedora do episódio, ela nos ajudou de uma forma significativa. Foi, além disso, um suporte para o nosso trabalho. Antes das gravações, abriu sua casa em São Geraldo Araguaia para uma reunião de camponeses na qual foi possível fazer uma triagem dos personagens que iriam participar do documentário.

Outra colaboração decisiva veio do Zé da Onça, que nos conduziu à casa de seus pais, a dona Adalgisa e seu Frederico, personagens centrais dos acontecimentos da Guerrilha. Destaco também a contribuição do Dolglas — assim mesmo, com “l” —, que, deslocado pelo PCdoB do Estado do Pará para ser o nosso motorista, acabou incorporado à equipe. Foi o nosso microfonista. Muitas vezes, ele pegava a câmara fotográfica e, no meio da mata, registrava as gravações.

Também quero lembrar o pessoal da Comissão de Anistia, especialmente o presidente, Paulo Abrão, e o conselheiro Egmar — que prestaram ajudas inestimáveis. O Renato Rabelo, presidente do PCdoB, foi outro personagem importante. Sempre que procurado, nos atendeu prontamente. Lembro ainda a valiosa colaboração do Aldo Arantes, da jornalista Renata Mielli, do jornalista Luis Carlos Antero, do historiador Augusto Buonicore e do Guido Abreu — que deu importantíssimas sugestões com sua experiência na produção de vídeos.

Faço uma menção especial ao Leocir Rosa, o responsável pela produção executiva, que teve um papel decisivo para a realização do documentário. Para finalizar, quero agradecer ao PCdoB do Pará e ao governo daquele Estado pelo importante apoio à equipe de filmagem. Quero agradecer também à TV mirante, do Estado do Maranhão, que nos cedeu imagens da época. E, finalmente, aos compositores Du Oliveira e Itamar Correa, que gentilmente cederam as músicas da trilha sonora do documentário. Além do povo generoso do Araguaia, essas pessoas foram decisivas para a realização do documentário.

Fonte: Grabois.org

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=11&id_noticia=140832

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Paulo Abraão participa de debate sobre "Camponeses do Araguaia"

Na última sexta-feira (12), após exibição do documentário “Camponeses do Araguaia – A guerrilha vista por dentro” na Cinemateca Brasileira, o presidente da Comissão de Anistia, participou de debate a respeito do filme e o classificou como “um instrumento de reparação” aos anistiados.


Além de Paulo Abrão, o diretor do filme, Vandré Fernandes e o produtor, Rogério Zagallo também sentaram à mesa, ao lado do representante da Fundação Maurício Grabois, Augusto Buonicore.


O documentário é composto por entrevistas com camponeses sobre a amizade com os “paulistas”, como chamavam os militantes do PC do B que lutaram na Guerrilha do Araguaia durante a Ditadura Militar. Durante os relatos, os camponeses revelam as atrocidades cometidas pelo exército brasileiro na região entre 1972 e 1974.

A comissão de anistia existe há quatro anos e há pelo menos dois realiza uma caravana que roda o Brasil ouvindo depoimentos de pessoas que viveram a repressão do Regime Militar. No debate, Paulo Abraão disse considerar o “Camponeses do Araguaia” uma das mais importantes produções nos “quatro anos de luta por uma mudança de concepção da Comissão de Anistia”, que, segundo o seu presidente, deve ser o de valorizar a memória, e não o esquecimento. O motivo de tal elogio é porque o filme “visibiliza os camponeses”, defendeu.

Sem confiança no Estado

Esta comissão colheu uma série de relatos de camponeses da região onde ocorreu a Guerrilha do Araguaia e impressionou-se com a dificuldade desses cidadãos confiarem no Estado, até por constantes constrangimentos que continuaram sofrendo até o início dos anos 2000 a cada relato que concordavam em dar. Abraão explicou que sistematicamente militares se dirigiam aos camponeses para intimidá-los após cada depoimento.

A iniciativa de viajar até o Araguaia para colher relatos significou uma virada no papel político da comissão, na avaliação do seu presidente. “Até então só recebíamos documentos, até que chegaram os relatos da Guerrilha do Araguaia, sobre os quais não havia nenhum documento, nenhuma prova. Tomamos então uma decisão ousada, de ir lá colher depoimentos. O Estado se obrigou a produzir provas”, relata Paulo Abraão.

Negação da história

Abraão sustentou também que até pouco tempo as Forças Armadas negavam a Guerrilha da Araguaia. Para ele, esta situação só se alterou a partir da decisão judicial que determinou a busca de corpos e recuperação da história da guerrilha.

Sensível à dificuldade daquele povo de ser ouvido, o presidente da comissão de anistia declarou ainda que a reparação dos camponeses é diferente de outros processos de reparação, pois eles não eram militantes. Este tema foi, inclusive, tema de debate dentro da comissão, que chegou à conclusão de que se eles não eram militantes, este era mais um motivo para a reparação. Para Abraão esta foi uma segunda virada política da instituição, pois estavam “enfrentando o negacionismo histórico que havia prevalecido até os dias de hoje”, e completou, emocionado; “podemos levar adiante o que a geração que nos antecedeu não teve condições de fazer. Trata-se de uma responsabilidade da nossa geração com esta história”.

Paulo Abraão falou ainda de uma crescente sensibilização em nível internacional à questão dos Direitos Humanos, defendeu o julgamento de crimes militares no Brasil, citando exemplos como o Chile e a Argentina, e comentou a decisão do juiz que decidiu conceder liminar suspendendo o pagamento dos camponeses do Araguaia, sugerindo que o filme seja enviado ao juiz.

Abraão despediu-se emocionado, agradecendo “profundamente” a sensibilidade do documentário, e classificando-o como “mais um instrumento de luta por verdade, justiça e memória”.

O documentário

A ideia de fazer as filmagens surgiu com a proposta da Fundação Maurício Grabois ao Vandré de captar imagens do ato de julgamento de anistia em São Domingos do Araguaia. Em resposta, Vandré propôs fazer um documentário e convidou o Rogério Zagalo, conforme relatou o diretor durante o debate. Assim se construiu o caminho para a realização de um projeto que concorre a premiações em festivais no Rio de Janeiro e em São Paulo e que retoma uma história tão cara à luta pela democracia no Brasil.

Augusto Buonicore o descreveu como “a história contada a partir da ótica de quem sofreu a opressão, e não uma peça propagandista”. Buonicore também denunciou o sistemático ataque das grandes empresas de mídia à Comissão de Anistia.

ALN

O ex-combatente da Aliança Libertadora Nacional (ALN) Takao Amano esteve presente ao debate, e concordou com a tese de Paulo Abraão de que o Brasil trata a questão da ditadura militar com uma lógica de negação, diferente de outros países da América Latina. Ao valorizar o trabalho da Comissão de Anistia e do Ministério da Justiça nos últimos anos, Takao desabafou que o mais marcante do processo de repressão é a perda de muitos amigos e companheiros, além da “barbaridade da tortura”. Takao Amano termina sua declaração, entretanto, de forma otimista, constatando que as mortes não foram em vão, visto que “conseguimos restabelecer a democracia”.

Fonte: Fundação Maurício Grabois
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=1&id_noticia=141694

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ministro participa de exposição e homenagem a piauienses no Museu do Piauí

quinta, 11 de novembro de 2010 • 13:24

O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), participa nesta quinta-feira (11), às 18 horas, da abertura da exposição “A Ditadura no Brasil, 1964 e 1985” e da inauguração do “Memorial em homenagem aos piauienses Antônio de Pádua Costa, Antônio Araújo Veloso e Simão Pereira da Silva”.


O evento que acontece no Museu do Piauí, em Teresina, é resultado da parceria entre a SDH e o Governo do Estado do Piauí, através da Coordenadoria Estadual de Direitos Humanos e da Juventude e da Fundação Cultural do Piauí (FUNDAC).

A exposição e o memorial integram o Projeto “Direito à Memória e à Verdade”, e tem o objetivo de recuperar e divulgar fatos e acontecimentos da história social e política brasileira durante o período da ditadura militar (1964-1985). O Museu do Piauí terá placa permanente com o nome das vítimas.

Também participam da abertura da exposição o governador do Piauí, Wilson Martins, o coordenador-geral da Coordenadoria de Direitos Humanos e Juventude do Estado, Alci Marcus, e o senador eleito do estado, Wellington Dias (PT), e Maurice Politi, coordenador-geral projeto Direito à Memória e à Verdade – da SDH, além da presidente da FUNDAC, Sônia Terra.

Piauienses homenageados

Antônio de Pádua Costa nasceu no Piauí em 1943, estudava astronomia no Departamento de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro quando começou a trabalhar no movimento estudantil. Preso, mudou-se para o Araguaia, foi Comandante do Destacamento A dos guerrilheiros. Antônio foi visto pela última vez em 24 de janeiro de 1974, quando de um intenso tiroteio com as forças armadas.

Antônio Araújo Veloso era camponês piauiense radicado na região do Araguaia, conhecido como Sitônio, foi preso em abril de 1972, durante a primeira campanha militar de repressão à guerrilha. Por sua convivência e amizade com os guerrilheiros, foi submetido a brutais torturas, que resultaram em seqüelas permanentes, resultando em sua morte em 31/08/1976, aos 41 anos.

Simão Pereira da Silva foi preso em 1973 no município de São João do Araguaia (PA), pelo Exército Brasileiro, vindo a sofrer na prisão torturas, espancamentos e humilhações. Após ser libertado, passou a viver em busca de tratamento médico, mas como havia sido muito maltratado na prisão, não foi possível se recuperar inteiramente das doenças que havia contraído, vindo a falecer no ano 1979, na cidade de Goiânia (GO).

Resgate da memória nacional

O projeto Direito à Memória e à Verdade teve início em 2006, com a abertura da exposição fotográfica “Direito à Memória e à Verdade – A ditadura no Brasil 1964 - 1985“, no hall da taquigrafia da Câmara dos Deputados, em Brasília. São registros de um passado marcado pela violência e por violações de direitos humanos. Disponibilizar esse conhecimento é fundamental para o País construir instrumentos eficazes e garantir que esse passado não se repita nunca mais.

http://www.portalaz.com.br/noticia/geral/196830_ministro_participa_de_exposicao_e_homenagem_a_piauienses_no_museu_do_piaui.html