Três índios da aldeia Sororó e seis moradores do campo foram ouvidos.
Neste domingo, 18, serão colhidos depoimentos de ex-soldados do exército.
Em Marabá, sudeste paraense, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) ouviu depoimentos de indígenas e trabalhadores rurais na tarde do sábado (17). O grupo veio ao Pará em missão para investigar crimes de tortura, morte e ocultação de cadáver relacionados a indígenas e camponeses cometidos durante a guerrilha do Araguaia.
Segundo a CNV, durante audiência púlica realizada em Marabá, relatos de
moradores de áreas rurais e de índios Suruí do Pará, da etnia Aikewara,
registraram casos de tortura, assassinatos e pessoas forçadas a
perseguir guerrilheiros contra a própria vontade.
As histórias relatadas aconteceram durante o período da ditadura
militar (1964-1985) em que o regime realizou a campanha de extermínio da
guerrilha do Araguaia, grupo armado de oposição à ditadura que atuou na
região.
Camponeses da região do Araguaia e indígenas Suruí participaram da
audiência, organizada em parceria com o Comitê Paraense de Memória,
Verdade e Justiça e a Associação dos Torturados da Guerrilha do
Araguaia, que teve como objetivo tornar públicas e visíveis as violações
de Direitos Humanos ocorridas na região. Três índios da aldeia Sororó e
seis moradores do campo deram seus depoimentos para a Comissão Nacional
da Verdade e para as mais de 200 pessoas que lotaram o plenário da
Câmara Municipal de Marabá, local onde aconteceu a audiência.
Representante da CNV no evento, a psicanalista Maria Rita Kehl destacou
que a principal função dessa e de outras audiências públicas que a
comissão está realizando em todo o país é dar visibilidade às histórias
de violações de direitos humanos que ficaram escondidas na história. “O
importante é que essas pessoas falem aos outros brasileiros, para que
todo mundo conheça as histórias que ficaram guardadas e se divulguem por
todo o país os abusos contra aqueles mais vulneráveis, que são os
camponeses e os indígenas.”
Já no domingo (18), o grupo irá ouvir depoimentos de três ex-soldados
que atuaram na repressão a militantes de esquerda e de pessoas
contrárias ao regime no Araguaia. Esses depoimentos podem ajudar a
esclarecer como funcionava a organização militar, quais eram as
estruturas e quais ordens eram enviadas a essa parte do Brasil durante a
época da repressão.
Grupos criam Comissão da Verdade
Durante a audiência do último sábado (17), o presidente da Associação de Torturados da Guerrilha do Araguaia Sezostrys Alves anunciou a criação de uma Comissão da Verdade dos Camponeses do Araguaia, que será composta por sete pessoas ligadas à defesa dos direitos dos camponeses e presidida pelo próprio Sezostrys.
Na sexta-feira (16), a Comissão Nacional da Verdade esteve na Terra
Indígena Sororó participando da reunião que oficializou a criação da
Comissão da Verdade Suruí.
Os índios da etnia Aikewara, ou Suruí do Pará, decidiram criar uma
comissão própria para investigar crimes cometidos contra os índios
durante o período da ditadura militar, principalmente no período de
repressão à guerrilha do Araguaia. O grupo será formado por índios das
aldeias Sororó e Itahy, que irão coletar e documentar relatos de
episódios que aconteceram na região durante a época de repressão
militar.
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