Documentos em posse de camponeses comprovam o nível de controle e perseguição cometida pelos militares durante e depois dos conflitos na Guerrilha do Araguaia, movimento insurgente dirigido na clandestinidade pelo Partido Comunista do Brasil entre os anos de 1972 a 1975, na região compreendida entre o Sul do Pará, o Norte de Goiás e o Sul do Maranhão, imensa área que ficou conhecida como Bico do Papagaio, cuja expressão na opinião de um dos generais que atuou na repressão política fora "a maior guerra do Brasil rural no Século XX" no enfrentamento à Ditadura Militar.
Com o apoio das forças de segurança e policiais dos Estados do Pará, do Goiás e do Maranhão, os militares comandados pelo Planalto Central instituiram na região um verdadeiro Estado de Sitio, onde controlavam tudo e todos, fazendo com que todos os moradores das pacatas cidades e vilarejos tivessem sem nenhuma explicação, suas liberdades proibidas pelos militares pelo fato de serem ou não amigos de integrantes do movimento guerrilheiro, onde todos os homens sem exceção foram retirados de suas casas sob ordens de prisão e levados a cárceres que funcionavam em vários locais espalhados pela região, onde o mais utilizado foi o que era instalado na Base Militar de Bacaba, o Antigo DNER (Casa Azul) como era conhecido e a Base de Xambioá. Tal Base foi utilizada principalmente para isolar os camponeses de seus familiares porque ficava do outro lado do Rio Araguaia e só os militares faziam a travessia, pois todos os barcos que trafegavam no Araguaia eram monitorados.
Este documento que estamos publicando mostra claramente o formato que era usado para manter o controle dos camponeses na região. Muitos lavradores após passarem meses presos sob graves violações de seus direitos fundamentais e muitas das vezes torturados até a náusea, quando não eram mortos e desapareciam.
Centenas de camponeses tinham que se apresentar a cada 15 dias nas bases militares e era forçados a prestar informações acerca do que sabiam ou tinham visto em relação a movimentação e localização dos guerrilheiros e suas bases de apoio popular.
Todas as vezes que um camponês tinha a necessidade de se deslocar entre os municípios e localidades da região tinham que ir até uma Delegacia e após longos interrogatório é que as forças de segurança locais emitiam um ATESTADO DE CONDUTA, infâme documento que lembra o nazismo.
Tendo uma foto do camponês ao centro, tinha que ser apresentado em todas as unidades de revista militares para que daí tivesse a sua passagem autorizada seja pelos rios ou caminhos terrestres.
O direito de ir e vir era severamente controlado pelos brutamontes de 64.
O achamento dessa documentação nas mãos de camponeses faz com que possamos ter uma ideia mais geral de como funcionava o aparato repressivo nos sertões araguaianos e revelam o nível de pressão que eram submetidos os trabalhadores rurais do Sul do Pará.
Por Sezostrys Alves da Costa.
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